Cenário 2
Em 2023, as realidades na saúde se diversificam, com a pandemia em efeito mosaico, alguns ainda convivendo com a Covid, quarentenas e sistemas de saúde sobrecarregados, outros em situação já mais controlada. Existem iniciativas para uso de tecnologia para rastreamento de contato entre a população, e restrições de viagens fora do território nacional são impostas. Alguns governos estaduais tentam impor restrições de locomoção intraestadual, mas o plano, mal executado, implode.
Nesse contexto, a crise econômica e a falta de coordenação em nível nacional, associados a iniciativas fragmentadas a partir de estados e municípios, agravam as desigualdades do país e impedem uma visão articulada e mais progressista de educação e tecnologia. Isso compromete o atingimento de metas do PNE e a implementação da BNCC.
Mesmo assim, algumas secretarias de educação conseguem experimentar inovações e avanços em educação e tecnologia, ainda de maneira mais regionalizada ou local. Essas soluções inovadoras partem de professores e gestores, mas de forma pulverizada – sem, por exemplo, possibilitar uma interoperabilidade de dados entre estados e municípios.
Em relação à formação de docentes e de gestores, no geral, há um cansaço e até resistência de professores e gestores com os efeitos da pandemia, um sentimento de burnout generalizado.. Do MEC partem iniciativas pouco articuladas de formação, desconsiderando experiências na ponta. A pandemia acelera a troca de professores concursados por temporários, algo já em curso nos últimos cinco anos. Com a aposentadoria ou o afastamento de professores no grupo de risco, estados e municípios abrem às pressas licitações para contratar milhares de temporários.
Em um ambiente de pouco recursos, com uma liderança divisiva a partir do MEC, há baixa articulação em nível nacional em instâncias como o Consed e a Undime. Mas há, por outro lado, algumas iniciativas inovadoras a partir de estados, municípios e do setor privado, com ampliação das formações oferecidas online.
Sem uma estratégia central do governo federal para conectividade, os estados se organizam para levar banda larga a todas as escolas. Governos estaduais replicam casos de sucesso já executados por Ceará e Piauí em criar Parcerias Público Privadas (PPP). Em vez de colocar todo dinheiro da rede de fibra, o governo paga pelo que usa da rede e agentes privados vão buscar financiamento para explorar comercialmente suas partes. A articulação ajuda a diminuir a desigualdade de acesso à internet, mas não de forma homogênea - alguns estados ainda sofrem pela falta de interesse da iniciativa privada.
Ao reconhecer essa vida que emerge da base do sistema de educação, mais do que do governo federal, o Brasil tem a possibilidade de vislumbrar a força do federalismo, entendendo o fortalecimento das suas unidades (estados e municípios). Em alguns casos bem sucedidos, atores da sociedade civil também se associam à produção e disseminação de boas práticas. Isso configura um cenário onde as desigualdades regionais aumentam, com os estados e municípios que conseguem se articular e implementar boas práticas avançando nos índices de educação enquanto os outros estados e municípios ficam para trás.
Por fim, frente à falta de planejamento do governo federal para enfrentar a pandemia e suas consequências, as eleições de 2022 consagram governadores que assumiram a liderança em seus respectivos estados. Um deles vence a disputa pelo Palácio do Planalto. Quem ficou marcado pela organização durante a crise ganha relevância e cargos nas eleições.
A estratégia fragmentada pelos estados mostra um aumento considerável no IDEB dos estados que articularam PPPs para conectividade. No geral, porém, a nota do Brasil no PISA não sobe o suficiente para atingir a nota média da OCDE e tirar o país da rabeira do ranking em ciência e matemática. Mesmo os melhores estratégias educacionais dos estados é incapaz de frear o avanço da evasão.
Linha do Tempo
2021
- Desigualdades socioeconômicas se evidenciam com a pandemia, que ainda se agrava com idas e vindas de quarentenas.
- Mesmo com a aprovação da lei do Fundeb, a crise provoca uma redução drástica de investimentos em educação em todos os níveis, e o fim do subsídio de equipamentos e internet móvel
- A atuação do MEC é em grande parte desarticulada dos estados e municípios.
- O MEC lança um posicionamento sobre o uso de tecnologia na educação, mas por não ter estabelecido um diálogo com a sociedade civil e os entes federativos, não consegue articular uma mudança significativa.
- Sem apoio algum do Governo Federal, redes de escolas lançam atividades e programas de forma pouco articulada para buscar se adaptar à realidade imposta pelo COVID.
- Sem uma proposta clara do MEC para diminuir a evasão e recuperar a rotina de aprendizagem, secretarias estaduais e municipais lançam individualmente ofertas para formar professores e gestores e atender outras demandas emergenciais. Profissionais da área de educação, antes muito resistentes ao uso de tecnologias, passam a experimentar novas práticas com tecnologias dentro e fora da sala de aula.
- As eleições para presidente e governadores mantêm o quadro de desarticulação política que domina o cenário nacional desde 2020. Com cada estado com seu plano, as voltas às aulas são fragmentadas. Alguns estados, com testagem e identificação de focos de propagação do vírus, agem rápido para manter as aulas em curso com alterações pontuais. Outros, sem tanto cuidado, revezam aberturas e fechamentos aguardando a chegada de uma vacina.
2022
- Desigualdades se ampliam diante da crise econômica e a sociedade tenta se adaptar e reconstruir a partir dos danos da pandemia.
- A Prova Brasil aplicada em 2021 revela um quadro de enormes prejuízos educacionais para a educação brasileira, em especial na rede pública.
- Surgem ações e projetos piloto; como novos modelos de formações descentralizadas e online e encontros sobre novos modelos educacionais adequados às realidades locais a partir de um maior alinhamento e articulação de Estados e municípios.
- Pressão da sociedade e dos entes federativos promove o destravamento do FUST e outras iniciativas para expansão do acesso à Internet.
- Alguns Estados e municípios, em consórcios como os já existentes na região nordeste, começam a adotar novas práticas para aquisição de serviços e compra de equipamentos, como compras coletivas de municípios.
2023
- Emergem algumas plataformas de comunidades de aprendizagem, lideradas por redes públicas de educação, terceiro setor e empresas privadas, voltadas à formação inicial e continuada de professores pela falta de liderança significativa a partir do MEC.
- Articulações entre estados e municípios, como consórcios e outras formas de parceria, por vezes associados ao terceiro setor, outras ao setor privado, se consolidam e revelam o potencial de movimentos de qualificação da educação que partem de baixo para cima no sistema de educação.