A Fundação Lemann identificou em 2019 a oportunidade de construir cenários de futuro para a inovação e tecnologia na educação básica brasileira. A ideia era construir uma ferramenta poderosa que auxiliasse o posicionamento e formulação de estratégias por parte de seu ecossistema de organizações parceiras.

Com o advento da pandemia de Covid-19, essa proposta focou o trabalho de construção de cenários num período mais curto, de três anos, dado o contexto de incertezas que atingiu a sociedade como um todo e a necessidade da educação brasileira recorrer a ferramentas tecnológicas para lidar com a quarentena de estudantes e professores.

Apesar dessa alteração no escopo de tempo (em geral cenários de futuro miram 10 a 20 anos à frente), o objetivo original se manteve: gerar uma análise de contexto por intermédio de uma metodologia testada internacionalmente para ajudar a Fundação Lemann e outros atores do setor a se posicionarem estrategicamente no campo da educação e tecnologia no período pós pandemia.

Assim, formou-se para a construção dos cenários um grupo de 32 pessoas, representando diferentes perspectivas e posições no ecossistema de educação e tecnologia no Brasil — alunos, educadores, gestores educacionais, especialistas em tecnologia, representantes de organizações que financiam iniciativas na área, como BNDES e BID, entre outros.

Entre abril e maio de 2020, cada uma dessas pessoas foi entrevistada individualmente, o que gerou um relatório denominado Síntese das Entrevistas, que reuniu as diversas visões sobre o passado, presente e futuro da educação e tecnologia no Brasil. Este material serviu de insumo para o trabalho de construção dos cenários que se seguiu, em seis oficinas de quatro horas cada, nos meses de junho e julho.

Foi uma das primeiras experiências de construção de Cenários Transformadores de Futuro à distância do mundo. Todo o trabalho se desenvolveu sem qualquer reunião presencial. Recorreu-se, para isso, a duas plataformas principais de trabalho colaborativo à distância, o Zoom e o Mural.

O resultado foram quatro Cenários Futuros para Educação e Tecnologia no Brasil Pós Pandemia. Esperamos que esse exercício coletivo contribua para enriquecer e estimular o debate público e o planejamento de ações em diferentes lugares – das escolas e comunidades a institutos e fundações, das secretarias municipais e estaduais à sociedade em geral –, qualificando com isso a inter-relação entre a educação e a tecnologia na educação básica do país.



O QUE SÃO CENÁRIOS?

Cenários são histórias que descrevem o que poderia acontecer no futuro, e não o que acontecerá (previsões) ou o que deveria acontecer (recomendações). Construir cenários é um exercício de suspender nossos desejos e nossas respostas, olhar para além de nossas previsões e projeções e nos abrir para pensar uma variedade de futuros possíveis

O valor desse exercício está em proporcionar uma experiência compartilhada que questiona abertamente nossos pressupostos, contribuindo para o debate público, para inspirar, estimular e informar estratégias, decisões e ações que influenciem a realidade da educação e tecnologia no Brasil. Os cenários, por serem resultado de um processo coletivo de perspectivas diversas, oferecem a vantagem de apoiar os debates sem comprometimento com uma determinada posição. Os cenários nos permitem lidar com o fato de que, embora não possamos prever ou controlar o futuro, podemos trabalhá-lo e influenciá-lo.

O planejamento de cenários transformadores tem sido usado nos últimos 25 anos em contextos diversos e complexos. Por exemplo, na transição do apartheid na África do Sul, nos momentos de maior conflito na Colômbia, no pós-guerra civil na Guatemala e na questão das drogas nas Américas num momento de grande incerteza e debate.